quarta-feira

camerata


Eu chegava na cidade, depois de andanças. Ainda de corpo, que as outras partes sobrevoavam. Mas eu vinha. 

E escutei o chamado: quer participar do musical que estamos fazendo sobre o Gainsbourg? 
Quer, Eli?
‘Quero’ foi o que disse, ainda na popa, pouco sabendo se desceria devagar ou aos saltos. Aos saltos e devagar, desse jeito seria, é. 
Até para o ‘quero’ vi que descia um pouco mais, para tocar os pés. 
Eles já pisavam. 

Eu vim ao mundo para ser eu. Eu vim para ser eu. Vim para ser. 

A javanesa me esperava. Quando nos juntamos, a Cínthya e eu, para fazer a versão em português, o que faltava para eu me aproximar de mim desapareceu. Contamos os versos, observamos as rimas e quisemos aliterar, como ela diz, e soa tão bem: a-li-te-rar. Gosto da palavra e não quero procurar seu significado. Sei o que é, mesmo não sabendo. 

Aprendi a nossa Javanesa um pouco, nos ensaios. E vou aprendendo a cada vez que tenho o microfone nas mãos. 
É no meio da canção que sei que o que estou fazendo é eu. Nos primeiros compassos, e depois, neste momento justo (e não há outra palavra para dizê-lo: é neste momento justo) em que não canto, pendo a cabeça, me deixo, sozinha, entrar no pulso do meu coração, e inspiro para dar a próxima nota, é aí que vou sonhando, e existindo, e tendo de mim o melhor que quero. 
Sou esta.

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